Fiesp começa a apoiar projeto que cria e preserva reservas ambientais marinhas
A iniciativa é apoiada pela bióloga Sylvia Earle, autora do livro "A Terra é Azul"
Idealizado pela bióloga marinha americana Sylvia Earle, 82, o projeto que pretende criar e preservar reservas ambientais marinhas ganha o apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). A bióloga se tornou um símbolo da exploração científica e da preservação dos oceanos com o plano de criar grandes reservas ambientais em ilhas oceânicas do Brasil.
Recentemente Earle esteve em São Paulo para lançar “A Terra é Azul”, seu mais importante livro, em palestra no Teatro do Sesi. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, logo após a fala da pesquisadora, Paulo Skaf, presidente da Fiesp, declarou que a proteção dos oceanos passaria a ser mais uma causa abraçada pela empresa. Ele ainda enviou ao presidente Michel Temer uma carta na qual pede agilidade na aprovação do projeto das áreas protegidas marinhas, que totalizariam cerca de 900 mil km2 (mais ou menos a área total da região Sudeste).
Considerada a versão feminina do explorador submarino francês Jacques Cousteau, Earle incentivou a plateia a se juntar ao projeto que protege o “Brasil azul”, seguindo o exemplo do que já se tem conseguido fazer com suas florestas.
A bióloga considera que a humanidade vive um momento paradoxal e único em sua relação com os oceanos. “Da metade do século 20 para cá, aprendemos mais do que em todos os milhares de anos anteriores da história humana. Descobrimos coisas incríveis e, ao mesmo tempo, temos uma consciência tremenda do que já foi perdido, com uma clareza que jamais teria passado pela cabeça das pessoas nos anos 1930, quando eu nasci.”
Em seu discurso, ela pediu que o público usasse a imaginação e visualizasse: o mundo banhado pelo Sol em terra firme e na superfície do oceano não passa de uma película incrivelmente fina se comparado ao conjunto da biosfera, ressaltou ela.
“Mesmo quando nós descemos a 1.500 m de profundidade, onde há escuridão total nos oceanos, isso ainda não é nada perto dos 11 km das zonas marinhas mais profundas. A grande maioria dos seres vivos cuja existência é fundamental para a nossa própria sobrevivência subsiste no escuro, sem jamais ver a luz solar”, disse.
A bióloga não consome peixes e outros animais marinhos a razão disso é que para ela se alimentar desses animais seria como consumir flamingos, leões e outras espécies únicas e ameaçadas no jantar. Ela também alertou sobre os riscos trazidos pelas mudanças climáticas aos ambientes marinhos, em especial do aumento da acidez da água, causada pelo gás carbônico em excesso (gerado toda vez que alguém liga um carro a gasolina, por exemplo).
“Não há nenhuma criatura com concha que esteja a salvo desse perigo hoje”, afirmou.
Mergulhem!
A palestra foi marcada pela urgência do alerta sobre os riscos que a humanidade corre por negligenciar os oceanos e ainda pelo conselho que ela deixou aos presentes: achem tempo para mergulhar no mar algum dia, incentivou.
“Minha mãe tinha 81 anos quando mergulhou pela primeira vez e teve a chance de ver os peixes nadando na água, e não numa bandeja com manteiga e limão”, contou Earle. “E o que a deixou mais surpresa foi o fato de que ela achava que ia ver os peixes nadando, mas os peixes é que ficaram a vê-la nadar —estavam muito curiosos por ver um primata no fundo do oceano. Por isso, se você já tem 81 anos, não espere mais. Se ainda não tem, não espere até os 81 anos para ter essa experiência”, disse.
Earle deve encontrar com o presidente Temer para discutir mais detalhes sobre o projeto e defender a criação do conjunto de reservas naturais em dois arquipélagos pertencentes ao Brasil: Trindade e Martim Vaz e São Pedro e São Paulo.
Ambos estão localizados a 1.000 km da costa, nas mediações do Rio Grande do Norte e do Espírito Santo, respectivamente. O plano para a criação das unidades de conservação já se encontra em fase final de consultas públicas, faltando apenas a oficialização do presidente. O plano é que as reservas incluam toda a chamada ZEE (Zona Econômica Exclusiva) pertencente ao Brasil no mar ao redor das ilhas.
Porém, a versão atual do projeto aponta que apenas uma fração relativamente pequena dessa área ficaria na categoria de proteção integral, na qual a pesca seria totalmente proibida.
Ainda na palestra e em coletiva com jornalistas, Earle elogiou a disposição brasileira de tirar as unidades de conservação do papel, mas frisou que a ciência tem mostrado a importância das áreas intocáveis para a saúde das espécies marinhas.
“Só os locais onde nenhuma pesca pode ocorrer realmente fazem a diferença”, argumentou. “São esses lugares que permitem que os peixes e outros animais tenham um refúgio no qual recuperar suas populações, e é partir deles que as áreas onde a pesca ocorre são repovoadas.”
Fonte: Correio 24 horas