13 mar, 2018

Aumenta a participação das mulheres na indústria da construção

Rio de Janeiro ampliará ainda mais essa presença feminina no setor

Com a aplicação da lei que define reserva de vagas para mulheres em obras públicas da cidade, é crescente a participação das mulheres no setor da construção em todo o País e as conquistas obtidas para esse aumento são cada vez maiores. A Lei nº 7.875, promulgada no último dia 2 de março pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, contribuirá ainda mais para esse aumento. O regulamento, que entrou em vigor no último dia 5, define a reserva de, no mínimo, 5% das vagas de emprego na área da construção de obras públicas do Rio de Janeiro para pessoas do sexo feminino. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) defende que mais portas se abram Brasil afora para as mulheres, com igualdade, respeito, amor e tolerância.

“Desejamos às mulheres desse País, e às da indústria da construção, que continuem fazendo a diferença”, defende o presidente da CBIC, José Carlos Martins.

Pela Lei estadual, a Administração pública direta e indireta do Rio de Janeiro fará constar, em todos os editais de licitação de obras públicas e em todos as contratações diretas realizadas com o mesmo fim essa exigência. A obrigação da lei deverá ser observada quando da renovação de contratos que envolvam obras públicas empreendidas pela administração pública estadual direta e indireta. Sua inobservância motivará a nulidade de edital de licitações ou do ato de dispensa, conforme o caso.

Participação das mulheres no setor

O número de trabalhadoras no setor da construção vem crescendo no País, apesar da crise que se instalou nos últimos anos. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Previdência Social, em 2006, cerca de 108 mil mulheres integravam o setor, de um total de 1,438 milhão de trabalhadores. Em 2016, elas já ocupavam mais de 219 mil vagas, de um total de cerca de 2,122 milhão, com uma participação de 10% no mercado de trabalho. São serventes, carpinteiras, ajudantes de obra, pedreiras, soldadoras, técnicas em segurança do trabalho e engenheiras, que, com naturalidade, têm condições de realizar as tarefas com tanta competência quanto os trabalhadores.

Percepção dos homens sobre as mulheres na construção

A Pesquisa Equidade em Construção de 2017, realizada pelo Serviço Social da Indústria da Construção do Rio de Janeiro (Seconci-Rio), em parceria com o Instituto Noos e o Instituto Avon, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, revela a percepção dos homens sobre as mulheres na construção civil. O resultado indica que há entraves à entrada da mulher, mas que os trabalhadores estão dispostos a enfrentar essas dificuldades. Indica ainda uma defasagem entre atitudes que revelam certa consciência do que seria desejável em termos de maior equidade de gênero e posições comportamentais ainda arraigadas ao modelo hegemônico de subordinação da mulher ao homem e à divisão sexual do trabalho.

Para entender melhor o fenômeno da violência de gênero dentro do contexto da construção civil, foram entrevistados 800 trabalhadores, com idade superior a 14 anos e atuantes em funções operacionais da construção civil. Ao serem confrontados com algumas máximas disseminadas pelo senso comum, os trabalhadores defendem a não interferência externa em brigas de marido e mulher, entendendo como legítima a defesa da honra.

A pesquisa também identificou que há maior percepção da violência em outros do que em si mesmo: 61,2% homens disseram conhecer pelo menos um homem que tenha sido violentado pela parceira, enquanto 25,5% admitem ter tido esse comportamento. Mas chama atenção a frequência com que a violência psicológica é praticada: 59% afirmaram praticar esse tipo de violência com frequência.

Já sobre o que esses trabalhadores pensam sobre a entrada da mulher no mercado da construção civil, 67% reagiram positivamente à presença feminina nos canteiros de obra; 70% afirmaram que a mulher pode ocupar qualquer função no setor e 26% que a mulher pode ocupar algumas funções no setor.

A grande maioria dos entrevistados afirma que seria necessário implementar mudanças para a entrada da mulher no canteiro de obra, tanto nas instalações físicas quanto no comportamento dos homens. Perguntados sobre o seu desejo de trabalhar ou não ao lado de uma mulher, 70,3% veem com bons olhos essa possibilidade. Dentre as modificações sugeridas pelos 96% que disseram que a mulher pode trabalhar na construção civil, 26,6% consideram indispensáveis vestiários exclusivos; 26,5% banheiros exclusivos; 23,7% sala para descanso; 12% vestimenta diferenciada, e 11,2% equipes exclusivamente femininas.

Já sobre mudanças necessárias no comportamento dos homens para a entrada das mulheres nos canteiros, 29,6% consideram a mudança de comportamento em geral, com mais respeito; 18,8% redução do machismo; 10,6% mudança de linguagem e do tipo de conversa; 7,7% mudanças que envolvem mais de um tipo categorizado; 6,1% mais educação, treinamento e qualificação, e 3,2% redução de preconceitos em geral.

Pela pesquisa, ficou claro que, embora ainda possa ser vista como insipiente, uma mudança positiva está em curso na relação pessoal e profissional entre homens e mulheres, mesmo quando se tem como foco um setor do mercado de trabalho tradicionalmente masculino, cujas funções operacionais são exercidas predominantemente por homens com baixo nível educacional e pertencentes a setores sociais menos favorecidos social e economicamente.

Fonte: CBIC